sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Divergências ortográficas

   Se você ouvir de alguém e escrever "a fatipa velopodever" , outra pessoa poderá escrever diferentemente , como por exemplo: "afatifa felopodefer"; ou se ouvir " o circunchento ortecujou o gimalia", outro ainda poderá entender e escrever bem assim : o circunxento hortecujou o Jimália". E assim por diante.. São muitas as formas de se grafar o que ouvimos . Um mesmo som pode ser representado por letras distintas, isto nos confunde, já pensamos logo que não sabemos português, ou que nosso aluno não sabe nada, que é muito "fraco", que não pode ser promovido para a série seguinte. É necessário que nós, professores, primeiramente conheçamos o nosso aluno para descobrir o que é que ele não sabe, onde parou e depois fazermos os nossos encaminhamentos didáticos. As palavras mencionadas acima são apenas exemplos, são palavras que não existem, citadas com o intuito de mostrar que ao ouvir uma mesma palavra, duas pessoas poderão grafá-la de maneiras diferentes, pois um mesmo som, na nossa língua, pode ser representado de várias maneiras. É aí que vem o desespero dos professores, principalmente daqueles da área de português, pois ainda insistem em culpá-lo, deixar toda a carga da alfabetização para ele. A alfabetização se dá ao longo de toda a vida e não só nas séries iniciais. Quem de nós até hoje não descobre o significado de uma palavra nova ou mesmo a forma de grafá-la? Qual é o professor que não tem dúvidas? Assim também acontece com os nossos alunos e à medida que vão lendo e fazendo uso da escrita, vão introduzindo gradativamente a norma ortográfica. Este assunto foi tratado na aula que tivemos hoje, que foi basicamente os problemas ortográficos e mais uma vez estamos cientes que para dominar a norma padrão devemos passar pelo caminho da leitura e produção, pois muitas coisas não se explicam mas é preciso interiorizá-las. Como explicar por exemplo a diferença entre "aconteceram e acontecerão"? A regra não explica mas o aluno precisa entender que um já passou e que o outro ainda vai acontecer. Por que filha se escreve com lh e família, não? São esses exemplos de dificuldades apresentadas pelas crianças mas que ao longo do tempo serão resolvidas por cada um, tendo contato com a leitura .

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Textos Visuais. Decodificações e Inferências.

Em 08/10/2008
Ouvimos a leitura de um texto aberto de Ricardo Azevedo: Aquilo
Fizemos o estudo de várias imagens de textos, constatando; decodificação, inferência, antecipação, seleção e checagem
Estudo de alguns textos onde imaginamos, qual é o título? que palavra falta? e estudo da fábula O galo que logrou a raposa: "Um velho galo matreiro, percebendo a aproximação da raposa, empoleirou-se numa árvore. A raposa, desapontada, murmurou consigo: "deixe estar, seu malandro, que já te curo!..." E em voz alta:
-Amigo, venho contar uma grande novidade: acabou-se a guerra entre os animais. Lobo e cordeiro, gavião e pinto, onça e veado, raposa e galinhas, todos os bichos andam agora aos beijos, como namorados. Desça desse poleiro e venha receber o meu abraço de paz e amor.
-Muito bem! - exclama o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que beleza vai ficar o mundo, limpo de guerras, crueldades e traições! Vou já descer para abraçar a amiga raposa, mas... como lá vem vindo três cachorros, acho bom esperá-los, para que também eles tomem parte na confraternização!
Ao ouvir falar em cachorro, Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou de pôr-se ao fresco, dizendo:
-Infelizmente, amigo co-co-ri-có, tenho pressa e não possa esperar pelos amigos cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo.
E raspou-se!
Contra esperteza, esperteza e meia!
Monteiro Lobato



Após o estudo desta fábula em minha sala de aula, fiz uma produção de texto a partir do tema
"É preciso ter cuidado com amizades repentinas", eis um dos textos criados:

Eu acho que da amesma forma que a raposa fez com o galo, uma pessoa faz com a outra, por pura maldade quem faz isso são seres que só pensam em si mesmo não estão nem ligando para as pessoas ao seu redor. Por isso temos que escolher bem os nossos amigos, não é qualquer pessoa que podemos chamar de amigo, porque hoje em dia é muito dificiu você encontrar uma pessoa, confiavel, legal, carinhosa que você realamente sinta que é seu amigo. Só ouvimos falar em violência pessoas que só querem fazer o mal a outra, sem motivo nenhum.
Brenda Cristina Lima, 5ª série

Fizemos inicialmente um estudo sobre as características das fábulas até chegar ao ponto da produção textual que foi focado no comportamento das pessoas. Foi interessante a contextualização feita pelos alunos, as muitas histórias que contaram tanto retratando atitudes humanas iguais ao galo quanto à raposa. Foram bem interessantes além da contextualização o trabalho de decodificação e inferências que fizeram, notando que os cachorros não existiam, que era uma esperteza da raposa!

Pesquisa Linguística

   Lemos o caderno de bordo da professora e colega Luzia e também ouvimos a leitura de um conto criado pelo aluno da colega Liliane. Após as leituras e comentários fomos ler e apresentar o estudo sobre Os passos da pesquisa linguística. No primeiro passo da pesquisa, Marcos Bagno nos mostra que a escola deve ser um lugar de revisão, crítica e reformulação teórica. A abordagem normativo-descritiva deve ser recolhida em mais de uma fonte, para que fique claro que mesmo entre os seguidores da doutrina tradicional existem divergência de análise e de interpretação de fenômenos gramaticais. No segundo passo, Bagno faz a investigação do fenômeno numa perspectiva histórica e afirma que transcorridos mais de 500 anos é impossível não haver mudanças e esperar que só a língua portuguesa permaneça imóvel. No processo de seleção-exclusão, usos gramaticais, muitos antigos na língua, foram excluídos da norma padrão porque não tinham equivalentes nos paradigmas da línguas clássicas. Estuda-se a gramática tradicional completamente descontextualizada, estanque. A norma padrão, segundo Bagno não é nem sincrônica(relata o momento atual), nem diacrônica(histórico), ela é anacrônica(desvinculada do tempo).O que deve  ser estudado é a língua que é falada. Para ele," os alunos deverão se conscientizar de que língua e linguagem são coisas muito mais ricas e fascinantes do que a velha descrição mecânica de conceitos , a velha nomenclatura falha da gramática tradicional e, principalmente, a velha distribuição de rótulos de certo e errado..." Concordo com suas ideias podendo partir das nossas próprias experiências em sala de aula. O aluno tem bem mais facilidade de aprender quando não ficamos presos a velhos conceitos gramaticais, a ideia de que aprender português é muito difícil precisa ser mudada, pois o que ensinamos é a língua que falamos(ou pelo menos, precisamos ensinar) . Quando educadores e alunos entenderem que estão ensinando a língua que falam ficará mais fácil ensinar e aprender. Só o professor que se fizer um pesquisador, um linguísta, poderá entender esta transformação no ensino da língua materna.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O manejo da palavra na leitura e na escrita

"Lutar com as palavras
é a luta mais vã
no entanto lutamos
mal rompe a manhã"
Carlos Drummond de Andrade
Em 25/09...
Foi assim que iniciamos o nosso encontro com os escritores João Bosco, da Casa do autores de Brasília, Lucília Garcez e Margarida Patriota. Todos os três, pessoas admiráveis que se dispuseram a compartilhar de uma manhã de muitos questionamentos sobre leitura e vivência numa sala de aula. Mediadas pelo escritor João Bosco, as duas escritoras iniciaram suas falas nos contando um pouco das suas vidas de estudantes e dizendo o que mudou. A escritora Margarida disse que muita coisa mudou, uma delas foi que o termo letramento não existia. Já a professora Lucília nos disse que lia vários gêneros textuais:fotonovelas,HQ,contos de amor... Lia o que gostava. Com Clarissa, de Érico Veríssimo, descobriu que a lituratura é uma fonte inesgotável de prazer.
Ao serem interrogadas sobre o que a literatura faz e o que não faz nos responderam assim: "A leitura proporciona a internalização das estruturas linguísticas muito mais do que o estudo da gramática. A prática da escrita desenvolve práticas próprias da escrita", disse Lucília. E Margarida nos garante que "quem lê tem facilidade para se expressar, e poder para interpretar a vida de forma melhor."
E domar palavra? É que nem domar boi? Assim foi interrogada a professora Margarida, ao que respondeu "nosso contato com a história vem com um contador de histórias, geralmente da família e depois da leitura." O nosso gosto por ouvir histórias já nasce dentro de casa.
O professor deve respeitar a fala do aluno e fazer com que ele fale, respeitar seu sotaque, valorizar sua linguagem, são palavras da professora Lucília, as quais eu assino embaixo.
O livro didático é um recurso para a escola levar a leitura até os seus alunos, mas ele só é pouco para desenvolver o gosto pela leitura, é preciso que se tenha livros diferentes, variedades de gêneros... continuam sendo palavras da professora Lucília.
Todas as suas palavras tiveram a intenção de esclarecer e ajudar aos professores de português, e o mais interessante é que se somaram aos nossos estudos neste curso, como exemplo lembro-me que a professora Margarida disse que a criança precisa compreender a multiplicidade da língua - uma com pais e irmãos, outra na escrita em um outro momento, quando o formal for o exigido. Se em uma situação escrevo um bilhete coloquial ,em outro vou escrevê-lo na linguagem formal. Compreender a natureza da língua torna as pessoas mais tolerantes. É importante para o falante saber usar a linguagem apropriada para cada situação e é importante que o ouvinte entenda o que o falante diz , mesmo empregando a linguagem coloquial . Este foi um encontro muito proveitoso. Deixo o meu abraço e a minha admiração pelas escritoras!

Encontro com escritores

O ensino da Língua Padrão X Mudanças Linguísticas

Em 18/09 começamos o nosso curso lendo o poema Aula de Português de Carlos Drummod. Tem tudo a ver com o nosso assunto:
Aula de português

A linguagem na ponta da língua,
tão fácil de falar e de entender.
A linguagem na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Fonte: br.geocities.com

O português tão simples e ao mesmo tempo tão complicado! O português, menino, é a sua língua , já não a reconhece? Um, é o que você conhece tanto, conversa e desconversa, faz rimas, canta... O outro é puro mistério , já não lhe apresentaram?

Continuamos discutindo um pouco mais sobre o filme Desmundo e sobre o que é cultura. Ela está presente em todas as ações da sociedade e não pode ser confundida com eventos isolados.
Mais adiante falamos sobre as mudanças linguísticas - Já muitos e muitos séculos que as pessoas se deram conta que as línguas mudam com o passar do tempo. No entanto, esse fato foi visto sempre como um problema, um defeito a ser corrigido, e a mudança linguística sempre foi encarada como uma decadência da língua.