domingo, 23 de novembro de 2008

Mapa Conceitual

Estamos chegando ao final de um curso que foi por demais importante e transformador de práticas e velhos conceitos da época de faculdade. Nova didática, metodologias, novas formas de encarar o diferente, de aprender que na língua ninguém é igual a ninguém, ninguém escreve ou lê igual a ninguém. Foi tempo de atualizar, de querer renovar, de perder o medo de ensinar de outra forma , de mais uma vez ouvir que é preciso se preocupar menos com a gramática e mais com a função da comunicação. Foi tempo de se ouvir que o dever do professor é trabalhar as diferenças, melhorar o nível de letramento para assim chegar ao seu fim que é o de incluir e não excluir . Foi tempo de debater sobre as várias formas de discriminação que a pessoa sofre pela língua. Foi tempo de levar pra sala de aula novas formas de se trabalhar a produção textual, novas idéias de se trabalhar a oralidade e de repensar o conceito de “certo” e ”errado”. Valeu muito! Agradeço às professoras Tamar e Luzia as quais estiveram conosco em todos os encontros, como também aos professores da UnB que mesmo à distância nos acompanharam e nos trouxeram um excelente material.

Memorial

Lembro-me bem... Ainda me lembro quando pequena, sentada num grande banco, em volta de uma grande mesa da fazenda, tive contato com as primeiras letras. Minha mãe ao meu lado, às vezes segurando na minha mão, outras não, me ajudava a traçar as letras do alfabeto, escrever meu nome, escrever uma pequena história que ela inventava naquela mesma hora.Assim aprendi  ler e escrever. Como demonstrava um grande interesse pelo estudo ela logo comprou um livro para facilitar a minha alfabetização. Facilitar a minha alfabetização era o que dizia . Mas O Circo Sapeca fez muito mais que isso, me trouxe o encantamento diante das histórias e das gravuras, transportou-me para o mundo fascinante do circo e dos artistas, realidade muito distante de uma vida na fazenda. “Juju – Olhe a Juju/Juju dança na bola...”, ou ” Zazá – Esta é a Zazá/Zazá dança no arame/Que beleza!/A menina não cai. “ Nunca esquecerei da importância que teve a minha mãe na minha vida de estudante. Sempre gostei de estudar, de conhecer mais, de descobrir...
Então, no ano seguinte foi tempo de partir para a cidade para descobrir mais do mundo das letras. A professora era maravilhosa , passava muitas leituras transcritas por ela numa grande folha de jornal,pois emendara as folhas e a dependurava no quadro. Ali eu lia muitas histórias! Até então, só eu sabia ler. Achava o máximo, coisa de criança! No meio de todas aquelas meninas( porque era escola só de menina!) só eu lia . A leitura foi se fazendo aos poucos, foi acontecendo , foi me despertando o desejo de estudar todos os dias! Não me lembro o nome do livro aqui nesta fase , nem mesmo sei se tive livros. Nunca fomos levadas à biblioteca, olhávamos através do vidro da porta aquela sala muito limpa, com os livros rigorosamente arrumados nas prateleiras, mas nunca soubemos para que fim. Mas me lembro que a professora levava muitas poesias para sala de aula. E ainda recordo Cecília Meireles com A canção dos tamanquinhos. “Troc...troc...troc... ligeirinho,ligeirinho,troc...troc...troc... vão cantando os tamanquinhos! “(agora líamos em coro!) Assim o tempo foi se passando e só na sétima  série voltei a ter contato com o mundo encantado dos livros. Li Pollyana, Os meninos da rua Paulo, Mar Morto e vários outros...
No  segundo grau, sempre li por conta própria, nunca dependi do professor para indicação de leituras. No curso de Letras li todos indicados pelos professores e muitos por vontade própria: Cecília Meireles, Carlos Drummond, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Manuel Bandeira são meus preferidos . Na literatura portuguesa gosto muito de Florbela Espanca , Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa. Como se vê, a poesia está sempre presente nas minhas preferências pela leitura, seja ela em prosa ou verso. Acho que não é por acaso!
Como professora de Língua Portuguesa, penso que quanto maior for o contato do aluno com as histórias lidas e ouvidas, maior será a sua facilidade para se fazer leitor. Todo texto contribui para o amadurecimento do ser, por isso a variedade de gêneros se faz de grande importância neste mundo onde quem sabe ler sai na frente, pois como diz o ditado “em terra de cego, quem tem olho é rei”.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

As várias leituras

Hoje foi mais uma aula muito interessante. Iniciamos ouvindo da professora Luzia a leitura de um lindo livro infantil sobre a vida de Leonardo da Vinci. Todas gostamos da história ouvida e devemos preservar este hábito em nossas salas de aula. Ler histórias para nossos alunos. Fizemos vários comentários sobre situações diárias vivenciadas no nosso trabalho e depois analisamos a ´letra da música E.C.T. Constatamos o quanto é difícil a sua interprpetação e a margem que dá para as diversas leituras. Como comentei na aula postada anterior a essa, as nossas leituras são várias, a minha leitura não é igual à do outro. Analisamos que num texto encontramos o posto( aquilo que está claro), o pressuposto( o que não é dito diretamente mas deixa o outro descobrir pelo contexto) e o subentendido(a leitura que cada um faz, o que é mais social). Foi mais um encontro prazeroso e de mais aprendizado.

Colóquio de Letras

Ah, foi um final de semana muito proveitoso. Dos dias 06 a 08 de novembro participei do Colóquio de Letras: Leitura, análise e produção de textos realizado pela UnB. Foram três dias de muitas e muitas apresentações de trabalhos dos alunos do curso de especialização sobre diversos temas, como Reflexões sobre a leitura na sala de aula, a questão dos estrangeirismos presentes no nosso dia-a-dia, a valorização do aluno do EJA quanto a questão da variação linguística presente em sala, e as muitas formas de produção numa sala de aula. Estes são alguns poucos exemplos do muito que pude apreciar naqueles trabalhos. Preciso confessar o meu encantamento e satisfação ao perceber o quanto este meu curso está me ajudando. Todos os assuntos tratados lá no Colóquio de Letras estão sendo por nós estudados nas quintas-feiras. pude mais uma vez confirmar o conceito de que a Língua Portuguesa é a melhor disciplina para se trabalhar a interdisciplinaridade, a que mais nos leva a partilhar com as demais o currículo da escola.Ão ler e escrever o aluno tem que se tornar consciente do que faz. Antes estudava-se pronomes, agora estudamos os elementos anáforicos. O aluno precisa refçetor sobre o que está fazendo, precisamos trabalhar as competências inatas do aluno. Atualmente, acredito que grande parte dos professores de porotuguês já trabalham de forma a levar o aluno a perceber que a língua não se acha confinada às regras gramaticais, mas se constitui em uma atividade social que se realiza nas condições de interação, isto é ler. Escreve-se porque é preciso, porque tem uma função social, então de nada vai adiantar o professor pedir que seu aluno escreva quando não se está querendo interagir. A escrita de textos com funções reais deve tomar o lugar da escrita vazia, de palavras soltas/ e ou frases inventadas que não dizem nada. Precisamos trazer para a sala o que está acontecendo lá fora, trabalhar a partir da perspoectiva de gêneros textuais. Vi durante este curso, no decorrer de todo o ano, a grande quantidade de gêneros textuais, gêneros bem atuais , que interessam aos nossos alunos e que não deverão ser esquecidos por nós professores. Acredito que leituras atuais e do interesse dos alunos deixam os alunos muito mais participativos. Ouvindo a palestra do prof. Dr. Dagoberto Buim Arena, achei muito interessante ouvir deste grande estudioso da língua que nós professores, na maiorria das vezes, não ensinamos ler, o que fazemos é avaliar a leitura do aluno. Uma leitura fluente, não significa que se sabe ler, conhecer o sistema linguístico não é saber ler. Para que a leitura se realize é preciso que se conheça o assunto. Cada um de nós faz a leitura que pode, de acordo com o conhecimento cultural que carrega. Então, não posso dizer que toda a minha turma lê igualmente. Cada qual faz a sua leitura. Ler é aprender a fazer perguntas e procurar as respostas para o que antes eu não sabia. Segundo ele "o que nos move são as perguntas e respostas que procuramos a todo momento.Encontrar estas nossas respostas é alcançar o prazer. Aprender a ler é aprender a ter atitudes diante do texto, as leituras são diferenciadas pelas inferências que este leitor tem. A leitura não acaba quando os nossos olhos saem do papel". Foi muito agradável ouvir tudo isso e mais uma vez chegar à conclusão do quanto o meu curso está sendo útil. Confesso que não fosse ele muito do que ouvi nestes três dias não seria por mim compreendido, uma vez que até mesmo a terminologia dentro do meu proprio contéudo tem mudado ou surgido, como diferença entre gêneros e tipos textuais, letramento, etc.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Coerência e Coesão

   Vamos partir imaginando o que é um texto. Um texto constitui um todo significativo, é uma unidade semântica. Nos deparamos cotidianamente com inúmeros textos, cada qual dentro de um gênero. Um texto escrito tem uma unidade formal, pois apresenta características que lhe dão coesão.
o texto é uma ocorrência linguística falada ou escrita que deve apresentar três propriedades básicas: unidade sociocomunicativa, pois é uma unidade de linguagem em uso; unidade semântica, tem um todo significativo; e unidade formal, uma vez que as palavras devem se integrar para formar um todo coeso.
   São sete os fatores de textualidade:
coerência,coesão,intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade.

   A coerência é responsável pela unidade semântica, pelo sentido do texto.

   A coesão é responsável pela unidade formal do texto, que se dá por mecanismos gramaticais e lexicais. Enquanto a coerência se dá nas partes, a coesão se dá no todo do texto. Procuramos sempre um texto coeso, quando isto não ocorre nos perdemos nas suas partes e passamos a não entender ou entender muito pouco do que se procurou transmitir.
   A intencionalidade é o empenho do autor em construir um texto coerente, coeso, e que atinja o objetivo que ele tem em mente. Isto diz respeito ao valor ilocutório do texto, ou seja, o que o texto pretente falar.

   A aceitabilidade é a expectativa do recebedor de que o texto tenha coerência e coesão, além de lhe ser útil e relevante. Segundo Grice (apud Costa 1991) para o autor alcançar aceitabilidade é preciso cooperação, qualidade e quantidade.

  A situacionalidade diz respeito à pertinência e à relevância do texto no contexto. Situar o texto é adequá-lo à situação sociocomunicativa.

   A informatividade quer dizer que  quanto menos previsível se apresentar o texto, maior será a informatividade. Tanto a falta quanto o excesso de previsibilidade, de informatividade  são prejudiciais à aceitação do texto por parte do leitor. Um bom índice de informatividade atende à suficência de dados.

   A intertextualidade concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s). Um texto constrói-se em cima do "já-dito."

Em outras palavras eu diria que quanto mais leitura e interpretação, mais condições terei de fazer uma boa produção textual. A coerência e a coesão se tornam realidade em meus textos não no momento em que interiorizo conceitos, mas quando as pratico dentro dos meus próprios textos, a partir da prática diária de leitura e revisão.
Quando encontro respostas para os meus próprios questionamentos, estarei fazendo uma boa leitura, ampliando a minha visão de mundo, amadurecendo os meus conceitos. Por isso gostaria de deixar para os meus colegas professores a importância de se ensinar  ler; acredito que os cidadãos que vencem são os bons leitores.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Divergências ortográficas

   Se você ouvir de alguém e escrever "a fatipa velopodever" , outra pessoa poderá escrever diferentemente , como por exemplo: "afatifa felopodefer"; ou se ouvir " o circunchento ortecujou o gimalia", outro ainda poderá entender e escrever bem assim : o circunxento hortecujou o Jimália". E assim por diante.. São muitas as formas de se grafar o que ouvimos . Um mesmo som pode ser representado por letras distintas, isto nos confunde, já pensamos logo que não sabemos português, ou que nosso aluno não sabe nada, que é muito "fraco", que não pode ser promovido para a série seguinte. É necessário que nós, professores, primeiramente conheçamos o nosso aluno para descobrir o que é que ele não sabe, onde parou e depois fazermos os nossos encaminhamentos didáticos. As palavras mencionadas acima são apenas exemplos, são palavras que não existem, citadas com o intuito de mostrar que ao ouvir uma mesma palavra, duas pessoas poderão grafá-la de maneiras diferentes, pois um mesmo som, na nossa língua, pode ser representado de várias maneiras. É aí que vem o desespero dos professores, principalmente daqueles da área de português, pois ainda insistem em culpá-lo, deixar toda a carga da alfabetização para ele. A alfabetização se dá ao longo de toda a vida e não só nas séries iniciais. Quem de nós até hoje não descobre o significado de uma palavra nova ou mesmo a forma de grafá-la? Qual é o professor que não tem dúvidas? Assim também acontece com os nossos alunos e à medida que vão lendo e fazendo uso da escrita, vão introduzindo gradativamente a norma ortográfica. Este assunto foi tratado na aula que tivemos hoje, que foi basicamente os problemas ortográficos e mais uma vez estamos cientes que para dominar a norma padrão devemos passar pelo caminho da leitura e produção, pois muitas coisas não se explicam mas é preciso interiorizá-las. Como explicar por exemplo a diferença entre "aconteceram e acontecerão"? A regra não explica mas o aluno precisa entender que um já passou e que o outro ainda vai acontecer. Por que filha se escreve com lh e família, não? São esses exemplos de dificuldades apresentadas pelas crianças mas que ao longo do tempo serão resolvidas por cada um, tendo contato com a leitura .

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Textos Visuais. Decodificações e Inferências.

Em 08/10/2008
Ouvimos a leitura de um texto aberto de Ricardo Azevedo: Aquilo
Fizemos o estudo de várias imagens de textos, constatando; decodificação, inferência, antecipação, seleção e checagem
Estudo de alguns textos onde imaginamos, qual é o título? que palavra falta? e estudo da fábula O galo que logrou a raposa: "Um velho galo matreiro, percebendo a aproximação da raposa, empoleirou-se numa árvore. A raposa, desapontada, murmurou consigo: "deixe estar, seu malandro, que já te curo!..." E em voz alta:
-Amigo, venho contar uma grande novidade: acabou-se a guerra entre os animais. Lobo e cordeiro, gavião e pinto, onça e veado, raposa e galinhas, todos os bichos andam agora aos beijos, como namorados. Desça desse poleiro e venha receber o meu abraço de paz e amor.
-Muito bem! - exclama o galo. Não imagina como tal notícia me alegra! Que beleza vai ficar o mundo, limpo de guerras, crueldades e traições! Vou já descer para abraçar a amiga raposa, mas... como lá vem vindo três cachorros, acho bom esperá-los, para que também eles tomem parte na confraternização!
Ao ouvir falar em cachorro, Dona Raposa não quis saber de histórias, e tratou de pôr-se ao fresco, dizendo:
-Infelizmente, amigo co-co-ri-có, tenho pressa e não possa esperar pelos amigos cães. Fica para outra vez a festa, sim? Até logo.
E raspou-se!
Contra esperteza, esperteza e meia!
Monteiro Lobato



Após o estudo desta fábula em minha sala de aula, fiz uma produção de texto a partir do tema
"É preciso ter cuidado com amizades repentinas", eis um dos textos criados:

Eu acho que da amesma forma que a raposa fez com o galo, uma pessoa faz com a outra, por pura maldade quem faz isso são seres que só pensam em si mesmo não estão nem ligando para as pessoas ao seu redor. Por isso temos que escolher bem os nossos amigos, não é qualquer pessoa que podemos chamar de amigo, porque hoje em dia é muito dificiu você encontrar uma pessoa, confiavel, legal, carinhosa que você realamente sinta que é seu amigo. Só ouvimos falar em violência pessoas que só querem fazer o mal a outra, sem motivo nenhum.
Brenda Cristina Lima, 5ª série

Fizemos inicialmente um estudo sobre as características das fábulas até chegar ao ponto da produção textual que foi focado no comportamento das pessoas. Foi interessante a contextualização feita pelos alunos, as muitas histórias que contaram tanto retratando atitudes humanas iguais ao galo quanto à raposa. Foram bem interessantes além da contextualização o trabalho de decodificação e inferências que fizeram, notando que os cachorros não existiam, que era uma esperteza da raposa!

Pesquisa Linguística

   Lemos o caderno de bordo da professora e colega Luzia e também ouvimos a leitura de um conto criado pelo aluno da colega Liliane. Após as leituras e comentários fomos ler e apresentar o estudo sobre Os passos da pesquisa linguística. No primeiro passo da pesquisa, Marcos Bagno nos mostra que a escola deve ser um lugar de revisão, crítica e reformulação teórica. A abordagem normativo-descritiva deve ser recolhida em mais de uma fonte, para que fique claro que mesmo entre os seguidores da doutrina tradicional existem divergência de análise e de interpretação de fenômenos gramaticais. No segundo passo, Bagno faz a investigação do fenômeno numa perspectiva histórica e afirma que transcorridos mais de 500 anos é impossível não haver mudanças e esperar que só a língua portuguesa permaneça imóvel. No processo de seleção-exclusão, usos gramaticais, muitos antigos na língua, foram excluídos da norma padrão porque não tinham equivalentes nos paradigmas da línguas clássicas. Estuda-se a gramática tradicional completamente descontextualizada, estanque. A norma padrão, segundo Bagno não é nem sincrônica(relata o momento atual), nem diacrônica(histórico), ela é anacrônica(desvinculada do tempo).O que deve  ser estudado é a língua que é falada. Para ele," os alunos deverão se conscientizar de que língua e linguagem são coisas muito mais ricas e fascinantes do que a velha descrição mecânica de conceitos , a velha nomenclatura falha da gramática tradicional e, principalmente, a velha distribuição de rótulos de certo e errado..." Concordo com suas ideias podendo partir das nossas próprias experiências em sala de aula. O aluno tem bem mais facilidade de aprender quando não ficamos presos a velhos conceitos gramaticais, a ideia de que aprender português é muito difícil precisa ser mudada, pois o que ensinamos é a língua que falamos(ou pelo menos, precisamos ensinar) . Quando educadores e alunos entenderem que estão ensinando a língua que falam ficará mais fácil ensinar e aprender. Só o professor que se fizer um pesquisador, um linguísta, poderá entender esta transformação no ensino da língua materna.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O manejo da palavra na leitura e na escrita

"Lutar com as palavras
é a luta mais vã
no entanto lutamos
mal rompe a manhã"
Carlos Drummond de Andrade
Em 25/09...
Foi assim que iniciamos o nosso encontro com os escritores João Bosco, da Casa do autores de Brasília, Lucília Garcez e Margarida Patriota. Todos os três, pessoas admiráveis que se dispuseram a compartilhar de uma manhã de muitos questionamentos sobre leitura e vivência numa sala de aula. Mediadas pelo escritor João Bosco, as duas escritoras iniciaram suas falas nos contando um pouco das suas vidas de estudantes e dizendo o que mudou. A escritora Margarida disse que muita coisa mudou, uma delas foi que o termo letramento não existia. Já a professora Lucília nos disse que lia vários gêneros textuais:fotonovelas,HQ,contos de amor... Lia o que gostava. Com Clarissa, de Érico Veríssimo, descobriu que a lituratura é uma fonte inesgotável de prazer.
Ao serem interrogadas sobre o que a literatura faz e o que não faz nos responderam assim: "A leitura proporciona a internalização das estruturas linguísticas muito mais do que o estudo da gramática. A prática da escrita desenvolve práticas próprias da escrita", disse Lucília. E Margarida nos garante que "quem lê tem facilidade para se expressar, e poder para interpretar a vida de forma melhor."
E domar palavra? É que nem domar boi? Assim foi interrogada a professora Margarida, ao que respondeu "nosso contato com a história vem com um contador de histórias, geralmente da família e depois da leitura." O nosso gosto por ouvir histórias já nasce dentro de casa.
O professor deve respeitar a fala do aluno e fazer com que ele fale, respeitar seu sotaque, valorizar sua linguagem, são palavras da professora Lucília, as quais eu assino embaixo.
O livro didático é um recurso para a escola levar a leitura até os seus alunos, mas ele só é pouco para desenvolver o gosto pela leitura, é preciso que se tenha livros diferentes, variedades de gêneros... continuam sendo palavras da professora Lucília.
Todas as suas palavras tiveram a intenção de esclarecer e ajudar aos professores de português, e o mais interessante é que se somaram aos nossos estudos neste curso, como exemplo lembro-me que a professora Margarida disse que a criança precisa compreender a multiplicidade da língua - uma com pais e irmãos, outra na escrita em um outro momento, quando o formal for o exigido. Se em uma situação escrevo um bilhete coloquial ,em outro vou escrevê-lo na linguagem formal. Compreender a natureza da língua torna as pessoas mais tolerantes. É importante para o falante saber usar a linguagem apropriada para cada situação e é importante que o ouvinte entenda o que o falante diz , mesmo empregando a linguagem coloquial . Este foi um encontro muito proveitoso. Deixo o meu abraço e a minha admiração pelas escritoras!

Encontro com escritores

O ensino da Língua Padrão X Mudanças Linguísticas

Em 18/09 começamos o nosso curso lendo o poema Aula de Português de Carlos Drummod. Tem tudo a ver com o nosso assunto:
Aula de português

A linguagem na ponta da língua,
tão fácil de falar e de entender.
A linguagem na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Fonte: br.geocities.com

O português tão simples e ao mesmo tempo tão complicado! O português, menino, é a sua língua , já não a reconhece? Um, é o que você conhece tanto, conversa e desconversa, faz rimas, canta... O outro é puro mistério , já não lhe apresentaram?

Continuamos discutindo um pouco mais sobre o filme Desmundo e sobre o que é cultura. Ela está presente em todas as ações da sociedade e não pode ser confundida com eventos isolados.
Mais adiante falamos sobre as mudanças linguísticas - Já muitos e muitos séculos que as pessoas se deram conta que as línguas mudam com o passar do tempo. No entanto, esse fato foi visto sempre como um problema, um defeito a ser corrigido, e a mudança linguística sempre foi encarada como uma decadência da língua.

domingo, 21 de setembro de 2008

FILME: DESMUNDO


Em 12/09 fizemos a leitura compartilhada de um texto de Jô Soares - "Português é fácil de aprender" e em seguida ouvimos a leitura do Diário de bordo de uma das colegas.
Passamos a assistir ao filme Desmundo e em seguida a fazer uma análise das situações vividas na época do Brasil Colônia. Quanta dominação encontramos naquele filme! Como sofria a mulher , como o povo da Terra era desvalorizado, subjugado, sofrido. Há ali a presença de cinco  povos existentes no início da nossa civilização: portugueses, espanhóis, índios, negros e judeus. Há a dominação dos mais fortes sobre os mais fracos, há a dominação pela língua, cor, etc.
Este filme é uma verdadeira aula de história, podendo ser discutidas questões de religião, submissão da mulher, a imposição da força através de vários meios. Indico este filme para aqueles que queiram pensar um pouco e que sabem que a discriminação e dominação em nosso país ainda continuam mesmo já passados mais de 500 anos...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Feira do livro de Brasília

Em 12/09 marcamos um encontro na Feira do Livro de Brasília. Foi um dia superinteressante, com todo aquele movimento de alunos ávidos pelas leituras e escolhas dos livros nas livrarias. Estivemos na ed. Arco-Iris e la ouvimos declamações de poemas de vários autores. Havia repentistas e muitas vontade de recitar. Também há aqueles livros em miniaturas.Quem não conhece O Pequeno Príncipe escrito neste modelo não sabe o que está perdendo! Esta feira acontece anualmente, é ela um bom começo para quem não se interessa por leitura de livros, porque nela o que não falta é livro para se escolher.É muito bom acompanhar os alunos e sentir a alegria dos mesmos na procura de livros, suas leituras rápidas e vontade de adquirir os exemplares. Para que nossos alunos leiam é preciso que os livros, jornais, revistas, panfletos, etc estejam acessíveis a eles . Precisamos melhorar as nossas bibliotecas e criar estratégias para que possam utilizar melhor este ambiente.

Livro Didático

Na aula do dia 28/08 fizemos a análise de livros didáticos. Com a turma dividida em grupos, cada um se encarregou de analisar um livro. Eu e minhas colegas fizemos a análise do livro Linguagem Nova, de Faraco e Moura. Notamos que os autores trazem uma grande variedade de gêneros e tipos textuais. Há nele muitos textos para intertextualidade. A produção oral é trabalhada em todas as suas unidades. Também possui muitas imagens para leitura. São muits as sugestões de leitura dadas pelos autores. São leituras muito interessantes.Este é um livro muito e os seus autores estão de parabéns! O livro didático é mais um recurso que devemos usar mas não pode jamais ser o único.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Gêneros e tipos textuais

   É comum a confusão que se faz na definição do que é gênero e do que é um tipo textual. Isto se deve porque este tema entrou nos currículos muito recentemente,como informa a profª Maria Luiza, em resposta à sua aluna, no fascículo Gêneros e Tipos Textuais.
Sempre que nos manifestamos linguisticamente o fazemos por meio de textos, sejam eles curtos ou longos, escritos ou orais. Neles, as ideias são organizadas das mais diversas maneiras, de acordo com a finalidade para que são criados. Isto quer dizer que cada texto realiza um gênero textual. Daí chamamos um texto de bula de remédio, outro de carta, outro de email,etc.
Os gêneros textuais estão vinculados à vida social e cultural de um povo, são fenômenos históricos.
Os tipos são definidos e classificados por seus traços linguísticos predominantes
O leque de classificação dos gêneros textuais é muito maior que o dos tipo. Os tipos são apenas quatro ou cinco, assim classificados: o narrativo, o descritivo, o argumentativo, o expositivo(por alguns considerados apenas como dissertativo), o injuntivo ou instrucional.
   Devemos inserir em nossas atividades de leitura e interpretação de textos "pistas" para que os alunos identifiquem os gêneros. Não é preciso que façamos uma lista destes gêneros, é bom que se faça uma análise com o conhecimento de mundo e nossa experiência com a linguagem. Desde a primeira infância aprendemos a reconhecer e utilizar os gêneros textuais, reconhecemos o que é sememlhante e o que é diferente. Veja por exemplo, quando uma criança pede para você contar uma história para ela, se você ler uma receita culinária, ela com certeza não vai aceitar a sua história, pois saberá que não é do gênero que pediu.
Essa nossa competência sociocomunicativa é que nos dá a capacidade para perceber quando devemos organizar um texto de uma maneira ou de outra.
Sabemos que um texto é diferente de outro porque já vivemos situações que nos orientam para reconhecimento do gênero. Por isso sabemos quando estamos diante de um cardápio, de um romance, de um bilhete, de um email, de um blog, etc.
O gênero é mais uma questão de uso do que de forma linguística. A classificação dos gêneros textuais é aberta e varia de acordo com as culturas e necessidades históricas. Com o advento do computador, muitas novas formas de comunicação foram criadas e os emails, blogs, chats por exemplo, são gêneros da sociedade atual. Podemos então dizer que as competências sociocomunicaticas não são aprendidas apenas intuitivamente, mas são também aprendidas e ensinadas na escola.
Recebi hoje duas interessantes receitas culinárias: uma atual e outra do século XVI. Cada uma delas em um formato diferente, porém com a mesma finalidade: dar as instruções de preparo de como assar uma perdiz e a outra, um bolo. Os dois textos são do gênero receita e neles encontramos os tipos descritivo e injuntivo.
Os textos deverão sempre ser classificados de acordo com a finalidade maior para a qual foram produzidos. As músicas por exemplo, são escritas sob forma de poema, mas foram feitas para serem cantadas, por isso são do gênero canção e não poema.
Concluindo, devemos reconhecer as situações de comunicação para definir os gêneros textuais e analisar como um texto foi organizado linguísticamente para  poder definir o seu tipo.

domingo, 3 de agosto de 2008

Oralidade e produção escrita

  Um amigo diferente, de Cláudia Werneck. Foi assim que iniciei o dia de hoje - ouvindo esta belíssima história. Você já a conhece? Se não, vale a pena conhecer. Um amigo diferente é um livro infantil feito para gente grande, gente que respeita o seu semelhante, gente que compreende que no mundo somos todos diferentes mas que nesse mundo das diferenças podemos fazer muito pelo outro. Quem é que não tem amigo zarolho ou que pensa mais lentamente? Você não poderia ser um deles? Pois é, pense nisso, o mundo precisa de gente que pensa grande.
Na aula de hoje tratamos de várias dinâmicas de oralidade seguidas de produção escrita.
Dinâmica dos nós - desenvolve a interação e o raciocínio. É um momento de descontração quando o grupo de mãos dadas solta as mãos e andam pela sala. Daí a pouco, dão-se novamente as mãos procurando aquele colega inicial para dar a mão direita. É preciso desfazer os nós, sem soltar as mãos, formando novamente o círculo inicial.
Dinâmica das perguntas - cada aluno faz três perguntas. Sentados, um diante do outro, um pergunta e o outro responde. A dupla que terminar primeiro, sinaliza para o professor e as duplas são trocadas.
Dinâmica das palavras ocultas - cada aluno prega um papel nas costas do colega. Todos andam pela sala, obedecendo ao comando do professor que dita o que devem escrever, como p.ex., um substantivo, um adjetivo, um verbo, etc. Após alguns minutos, cada aluno retira o seu papel das costas e utiliza as palavras que estão escritas para fazer um produção de texto.
Dinâmica do texto coletivo. Formam-se grupos e cada aluno recebe uma folha de papel com um título para desenvolver um texto narrativo. Durante um ou dois minutos cada aluno vai escrevendo o seu texto, após o sinal do professor o papel é passado para o colega da direita. Este deverá ler e continuar a história do seu colega. E assim por diante até a folha rodar no grupo. Ao final, cada aluno lê o texto. Numa outra aula o texto é retomado para se fazer as correções buscando principalmente coesão e coerência. (obs.: é importante trabalhar primeiramente os conceitos de narração para depois desenvolverem o texto). Esta é uma boa técnica para ensinar coesão e coerência, mesmo sem os conceitos)
Todas estas técnicas podem ser trabalhadas em quaisquer séries do ensino fundamental.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O papel da escola pós-moderna

12/06/2008 - No dia de hoje trabalhamos as variações linguísticas tratadas no módulo 5. Língua e linguagem. A construção do cânone. Função da Escola Pós-moderna. A linguagem são as muitas formas de comunicação das quais nos servimos a cada instante. Ela é um elemento da cultura de um povo e, sendo assim, está em constante mudança. A linguagem e as outras atividades sociais se correlacionam. Os interesses e as necessidades de cada época é que impõem mudanças à nossa linguagem.
A língua é uma das formas de linguagem que utilizamos. Ela é fruto de um construto-social, por isso penso que não deveria haver estigmatização daqueles que fazem parte de grupos periféricos , ou seja, daqueles que estão em um nível menor de letramento. Não é a língua construída por todos? Então deveríamos aceitá-la com suas diversidades, individualidades. O que presenciamos são pessoas com menor nível de letramento sendo discriminadas linguísticamente.
É função da escola trabalhar para favorecer a inclusão de todos, é dever do mais letrado entender o menos e possibilitar que este possa melhorar o seu potencial linguístico, que este menos letrado possa fazer parte de um grupo de prestígio social.Precisamos equilibrar o respeito às variações linguísticas e o ensino das normas padronizadas, ditas cultas. Este é o dever de uma escola que se pretende democrática e emancipadora.
A Escola Pós-moderna vem trabalhando para fazer a inclusão de todos. Há algumas décadas apenas a elite tinha acesso às escolas; esta realidade tem mudado a cada ano.
Não tem sido fácil o trabalho de educadores nesta tarefa de promover a inclusão. Muitos são os problemas, os desgastes, as tentativas... o desejo de acertar!
Como sugestão para a realização de um trabalho efetivo de inclusão pensamos que o caminho através do trabalho interdisciplinar é um bom caminho. Precisamos persegui-lo.

sábado, 31 de maio de 2008

Nóis Mudemo

"NÓIS MUDEMO"
Fidêncio Bogo


   O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, toda poesia e misticismo.Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico. As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
   - Por que você faltou esses dias todos?
   - É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.
    Risadinhas da turma.
   - Não se diz "nóis mudemo", menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá?
   -Tá, fessora!
   No recreio, as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo! No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
   - Pai, não vô mais pra escola!
   - Oxente! Módi quê?
   Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
   - Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece.
   Não esqueceram. Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio.   Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio, no sul do Pará.
   - É, professora, meu fio não aguentou as gozação da mininada. Eu tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele tava chatiado demais. Bosta de vida! Eu devia di té ficado na fazenda côa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.
   Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi. O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.
   - O que é, moço?
   - A senhora não se lembra de mim, fessora?
   Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.
   - Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?
   Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
   - Eu sou "Nóis mudemo”, lembra? - Comecei a tremer.
   - Sim, moço. Agora lembro, Como era mesmo seu nome?
   - Lúcio. Lúcio Rodrigues Barbosa.
   - O que aconteceu com você?
   - O que aconteceu? Ah! fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu . Comi o pão que o diabo amassô. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui bóia fria, um "gato" me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante às veis fais coisa sem querê fazé. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de té saído daquele jeito, fessora, mas não aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje não sei.
    Meu Deus!Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.O ônibus buzinou com insistência. O rapaz afastou-me de si suavemente.
   - Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
   - Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!

   Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Superusada, mal- usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna - a língua que a criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas- e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.E os lúcios da vida, os milhares de lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: "Não é assim que se diz, menino!" Como se o professor quisesse dizer: "Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu ! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!" E siga desarmado para o matadouro.

sábado, 17 de maio de 2008

Variedades linguísticas

Esta é a 6ª aula e continuamos o estudo da variação linguística. Alguns modos de falar são considerados "certos " e "bonitos" não por acaso, mas dependendo da classe social deste falante, enquanto outros são vistos como 'errados" e "feios", por ser empregado por um falante de uma classe social menos reconhecida. A língua é um elemento que marca a identidade física e individual do falante. Através dela descobrimos em que grupo a pessoa está inserida(é de um nível social mais alto? é um professor? um médico? um roqueiro?alguém do meio rural?). A língua aparece como uma forma de controle social das classes dominantes e dominadas.

Estamos comentando a questão das trocas de letras, falta de concordância,etc e vimos que são fatos que não acontecem por simples desconhecimento mas que há razão para eles. Na troca de letra por exemplo, do l pelo r ,estas são consoantes líquidas que têm o ponto de articulação muito próximo um do outro e todos dois são capazes de de juntarem a outras consoantes para formarem os encontros consonantais. No latim palavras como clavu se transformou no português para cravo, flaccu, se transformou em fraco e etc. Por isso é comum ouvirmos Cráudia e praca ao invés de Cláudia e placa.A esta troca os linguísticas dão o nome de rotacismo.Outras trocas se dão de forma mais natural e pensa-se que é pelo fato do usuário da língua achar tais formas mais fáceis, como em "os menino vive". A língua portuguesa é muito rica e é papel do professor lidar com essas diferenças, sem provocar a discriminação. É dever do estado facilitar para que todo brasileiro tenha acesso à lingua mais valorizada socialmente, a língua padrão. Se a pessoa tem acesso a essa língua ela poderá permear pelas diversas camadas sociais, ter acesso às várias formas de se empregar a língua e ter condições de compreender todas elas e usá-las da maneira que preferir, no momento que achar adequado. Nós, professores, devemos favorecer a inclusão e jamais ter uma atitude de exclusão . Ouvimos hoje no momento da leitura compartilhada a leitura de um conto que mostra um caso de discriminação através do preconceito linguístico. Vimos nesta aula que onde há variação, tem avaliação. É preciso termos a sensatez e fazer uso do nosso conhecimento para não exercermos e nem deixarmos que a estimatização se propague no nosso meio. Precisamos lidar com as diferenças do uso da língua e entendê-las como mais uma riqueza da língua portuguesa.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Variedades linguísticas

No dia 08/05 fomos para a 5ª aula discutindo e lendo sobre as variações linguisticas. Começamos analisando Como eu falo? O estudo nos leva a valorizar o idioma com sua variedades observando aspectos de escrita e oralidade. O estudo das variações linguisticas é bem interessante e atual. Estou gostando muito do assunto pois sempre valorizei o jeito peculiar de cada pessoa falar. Gosto de ouvir habitantes de todas regiões brasileiras e perceber seus sotaques, gosto de ouvir a linguagem do caipira, respeitar as diferenças e poder entendê-las.
Lemos uma apostila e fizemos discussões em grupo. Meu grupo leu e apresentou o estudo de José Luiz Fiorini quando critica a intolerância em relação à variação e a mudança da língua. Lemos também sobre a questão do estrangeirismo e sobre o processo patológico da linguagem e dos falantes. Ouvimos explicações dos colegas sobre as variações dentro de cada grupo social. No estudo que fiz do fascículo 5 encontrei todas as questões tratadas na aula de hoje.Gostaria de deixar aqui o texto estudado neste fascículo e que muito me atraiu:
Retratos de sala de aula
- Dá licença, dona Cráudia, meu nome é Regina, eu sou avó do Pedro. Me perdoa por atrapaiá a aula, mas é que o Pedro tem hora marcada agora no médico, lá no Hospitá das Crínica. Tem dois mês que ele tá se quexano dumas dô no juêi, uma dô que apareceu depois dum jogo de bola, e nós só conseguiu marcá pra hoje de manhã. Esse menino vive dano trabaio prpa nós, num é? A mãe dele pediu pra mim levá ele, porque nem ela nem o pai dela não pode largá o serviço.
A professora faz um gesto de permissão com a cabeça, o aluno se retira com a avó. Depois que eles se afastam,a professora se volta para a classe e diz:
_ Viram por que é que vocês precisam vir pra escola? É pra não falar tudo errado feito a avó do Pedro.

Concordo com a opinião do autor de que é necessário" o respeito e a valorização das diferenças linguisticais, mas que também é direito inalienável o conhecimento de outras culturas e consequentemente a opção pelo uso da língua". À escola cabe mostrar e ensinar o respeito a essa variedade linguistica, ensinar as formas linguisticas padronizadas para que cada um saiba se posicionar verbal ou por escrito , que possa compreender e ser compreendido em várias situações de uso da lingua materna.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A família pós-moderna

No dia 24/04/08 tivemos a quarta aula. Fiz, no momento de compartilhar a leitura com os colegas, a leitura do texto O Gramático, de Humberto de Campos.

Alto, magro, com os bigodes grisalhos a desabar, como ervas selvagens pela face de um abismo, sobre os cantos da funda boca munida de maus dentes, o professor Arduíno Gonçalvesera um desses homens absorvidos completamente pela gramática. Almoçando gramática,jantando gramática, ceando gramática, o mundo não passava, aos seus olhos, de um enorme compêndio gramatical, absurdo que ele justificava repetindo a famosa frase do Evangelho de João:
– No princípio era o VERBO!
Encapado pela gramática, e às voltas, de manhã à noite, com os pronomes, com osadjetivos, com as raízes, com o complicado arsenal que transforma em um mistério a simplicíssima arte de escrever, o ilustre educador não consagrava uma hora sequer às coisas doseu lar. Moça e linda, a esposa pedia-lhe, às vezes, sacudindo-lhe a caspa do paletó esverdeado pelo tempo:
– Arduíno, põe essa gramatiquice de lado. Presta atenção aos teus filhos, à tua casa,à tua mulher! Isso não te põe para diante!
Curvado sobre a grande mesa carregada de livros, o cabelo sem trato a cair, como falripas de aniagem, sobre as orelhas e a cobrir o colarinho da camisa, o notável professor retirava dos ombros a mão cariciosa da mulher, e pedia-lhe, indicando a estante:
– Dá-me dali o Adolfo Coelho.
Ou:
– Apanha, aí, nessa prateleira, o Gonçalves Viana.
Desprezada por esse modo, Dona Ninita não suportou mais o seu destino: deixou o marido com suas gramáticas, com os seus dicionários, com os seus volumes ponteados detraça, e começou a gozar a vida passeando, dançando e, sobretudo, palestrando com o seu primo Gaudêncio de Miranda, rapaz que não conhecia o padre Antônio Vieira, o João de Barros,o frei Luís de Sousa, o Camões, o padre Manuel Bernardes, mas que sabia, como ninguém,fazer sorrir as mulheres.
– Ele não prefere, a mim, aquela porção de alfarrábios que o rodeiam? Então, que se fique com eles!
E passou a adorar o Gaudêncio, que a encantava com a sua palestra, com o seu bom-humor, com as suas gaiatices, nas quais não figuravam, jamais, nem Garcia de Rezende, nem Gomes Eanes de Azurara, nem Rui de Pina, nem Gil Vicente, nem, mesmo, apesar do seu mundanismo, D. Francisco Manuel de Melo.
Assim viviam, o professor, com seus puristas, e D. Ninita com o seu primo, quando, de regresso, um dia, ao lar, o desventurado gramático surpreendeu a mulher nos braços musculosos,mas sem estilo, de Gaudêncio de Miranda. Ao abrir-se a porta, os dois culpados empalideceram,horrorizados. E foi com o pavor no coração que o rapaz se atirou aos pés do esposo traído,pedindo, súplice, de joelhos:
– Me perdoe, professor!
Grave, austero, sereno, duas rugas profundas sulcando a testa ampla, o ilustre educador encarou o patife, trovejando, indignado:
– Corrija o pronome, miserável! Corrija o pronome!
E, entrando no gabinete, começou, cantarolando, a manusear os seus clássicos...


Gosto muito desse texto, pois o mesmo nos deixa atentos sobre a questão da gramática. Até que ponto, nós, professores de português devemos ir? Após comentários entramos no assunto do dia: A família pós-moderna. A turma foi dividida em dois grupos, e fizemos um debate, ficando metade a favor e a outra contra. Apresentamos um animado debate e tivemos a oportunidade de dar depoimentos e exemplificaçaões com histórias de sala de aula. No fechamento, ficou para nós que pais ausentes são aqueles que não se preocupam e não os que trabalham fora. Foi uma técnica trabalhada também para mostrar que este pode ser um momento da turma exercer a oralidade.

No 2º momento da aula analisamos textos de nossos alunos que foram levados para sala e fizemos os três momentos de leitura. Foi muito bom!

A oralidade em sala

No dia 17/04 fomos para a terceira  aula. Estudamos hoje sobre a oralidade. Como levar o aluno a desenvolver sua oralidade? Em primeiro lugar ouvimos a leitura da crônica Lixo, de Fernando Veríssimo. Comentamos os diálogos e suas intenções explícitas e implícitas. Trabalhamos com o fascículo nº 2 Texto, linguagem e interação. Em qualquer jogo é necessário que haja regras. Assim também é na comunicação, para que ela aconteça, para que haja interação, faz-se necessário que códigos sejam combinados, conhecidos de locutores e locutários.. Como trabalhar textos na sala de aula? Devemos sempre trabalhar o signo analisando o significado e o significante. A interação ocorre quando um entende e acrescenta a sua ideia que pode ser completada por outro que repassa aquele conhecimento. Ao receber, eu também o agrego ao meu e evoluo, cresço, mudo meu modo de pensar. "É um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando a outro homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem". (É. Benveniste)
Segundo Vygotsky a linguagem é um sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o ser.
Pudemos concluir que a nossa cultura vai definir a nossa linguagem. Gostei muito das leituras e das nossas interpretações. Valeu!

Letramento

No dia 10/04 tivemos a 2ª aula. Iniciamos ouvindo a leitura do poema A procura das palavras, de Carlos Drummond de Andrade. Fizemos a dinâmica da completude e falta. Foi um momento de exercer a oralidade e a interação do grupo. Trabalhamos os conceitos de alfabetização e letramento. A alfabetização não se limita às séries iniciais . Não podemos entender o letramento sem a prática social. O letramento é o uso social daquele conhecimento. Retornamos ao texto da aula anterior e discutimos as muitas possibilidades de trabalho que ele nos oferecia. Vimos a técnica dos três momentos de leitura. No terceiro momento da leitura verificamos as possibilidades de se desenvolver um trabalho de intertexto.Verificamos o quanto o texto é rico e concluimos com as evidências de que naquele texto, aparentemente simples e curto, há n possibilidades de discussão e contextualização. Foi uma aula muito interessante.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Leitura, Interpretação e Produção de Textos - Aula inaugural

No dia 03/04/2008, tivemos a 1ª aula do curso Alfabetização e Linguagem. Após as apresentações das professoras-tutoras Tamar e Luzia, compartilhamos o momento de leitura com o texto A moça tecelã, de Marina Colassanti. O texto é bem interessante e pudemos fazer vários comentários . Depois fizemos nossas apresentações usando a técnica do cordãozinho , quando falamos sobre os pontos que nos influenciaram no decorrer da vida para que nos tornássemos os profisssionais de hoje. Resgatamos lembranças que nem sequer pensávamos que fariam a diferença em nossas vidas. Foi um bom momento de interação e a 1ª idéia do curso de como se trabalhar a oralidade em nossas salas de aula.
Ao final, fizemos a leitura do texto "Celulares - só faltam dominar o mundo", de Antonio Brás Constante. Em duplas, trocamos idéias sobre as atividade que poderíamos trabalhar a partir dele.
Gostei da aula, foi um começo bem animador. As professoras são pessoas muito simpáticas e nos deixaram muito à vontade ao expormos as nossas idéias.
Que Deus nos ajude!

domingo, 6 de abril de 2008

Sonho

Um dia os homens acordaram
e estava tudo diferente
das armas atômicas nem sinal havia
e todos falavam a mesma língua,
falavam poesia.
Quem visse a Terra do alto
nem reconheceria,
eram campos de trigo
e corações de puro mel.
E foi uma felicidade tamanha,
nos jornais nem um só crime,
que contando ninguém acreditaria.


Elias José